terça-feira, 28 de maio de 2013

O artista


Uma noite veio à sua alma o desejo de criar uma imagem d “O Prazer que
durava um Momento”. E ele foi pelo mundo para procurar por bronze. Pois
ele podia apenas pensar em bronze.
Mas todo o bronze do mundo inteiro havia desaparecido, nem existia em
lugar algum do mundo inteiro bronze a ser achado, exceto pelo bronze da
imagem d “O Sofrimento que resistia para Sempre”.
Essa imagem ele mesmo tinha, e com suas próprias mãos, criado, e havia
colocado sobre a tumba da única coisa que ele havia amado na vida. Na
tumba da coisa morta que ele mais amara ele colocou essa imagem criada
por ele, para que servisse como um símbolo do amor do homem que não
morria, e um símbolo da dor do homem que resistia eternamente. E no
mundo inteiro não havia outro bronze, salvo o bronze dessa imagem.
E ele pegou a imagem que ele havia criado, e a colocou numa grande
fornalha, e a deu ao fogo.
E do bronze da imagem d “O Sofrimento que resistia para Sempre” ele
criou uma imagem d “O Prazer que durava um Momento”.


Poemas em Prosa
Oscar Wilde

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Se Eu Morrer Novo

Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.
Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.


Poemas Inconjuntos
Alberto Caeiro

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

terça-feira, 21 de maio de 2013

ORGULHO DE SER CRUZEIRENSE!

Um time que sabe vencer desafios.
Um portento cuja força começa na camisa, com suas cinco estrelas eternas.
Hoje, perdemos o campeonato para um time que é o nosso oposto.
Sim, um time que está junto há muito tempo e que, hoje, joga melhor do que nós.
Mas também um time que precisa ter algo do seu lado para que vença:
vantagem de um jogador,
caldeirão pequeno com torcida única,
juízes mal intencionados,
imprensa torcedora.
Hoje, quando este adversário não teve nada disso a seu favor (a não ser o último item, que quase morreu do coração durante o primeiro tempo!), não conseguiu vencer.
Levou, mas não venceu!
Venceu quem está se preparando para o futuro.
Quem está se preparando para dizer com orgulho e paixão:


-RESPEITO, EU SOU CRUZEIRO!

Edmundo De Novaes Gomes



RIMAS

Ontem _ quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixão _ louca _ suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida _ gélida _ prendias...

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema...
_ Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quanto tu te rias...

Hoje, que vivo desse amor ansioso
E és minha _ és minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tão ditoso!

E tremo e choro _ pressentindo _ forte _,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida _ que é a morte...

[1885]

Euclides da Cunha

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Camilo Castelo Branco

"A amante que chora o amante que teve, na presença do amante que se lhe oferece, quer persuadir o segundo que é arrastada ao crime pela ingratidão do primeiro."

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Minha Finalidade


Turbilhão teleológico incoercível,
Que força alguma inibitória acalma,
Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma
Dos que amam apreender o Inapreensível!
Predeterminação imprescritível
Oriunda da infra-astral Substância calma
Plasmou, aparelhou, talhou minha alma
Para cantar de preferência o Horrível!
Na canonização emocionante
Da dor humana, sou maior que Dante,
-- A águia dos latifúndios florentinos!
Sistematizo, soluçando, o Inferno...
E trago em mim, num sincronismo eterno,
A fórmula do todos os destinos!

Augusto dos Anjos

terça-feira, 7 de maio de 2013

A 'sperança, como um fósforo inda aceso

A 'sperança, como um fósforo inda aceso,
Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.
A falha social do meu destino
Reconheci, como um mendigo preso.
Cada dia me traz com que 'sperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa de Esperança ...
Mas viver é sperar e se cansar.
O prometido nunca será dado
Porque no prometer cumpriu-se o fado.
O que se espera, se a esperança e gosto,
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.
Quanta ache vingança contra o fado
Nem deu o verso que a dissesse, e o dado
Rolou da mesa abaixo, oculta a conta.
Nem o buscou o jogador cansado.


Fernando Pessoa