quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Carolina

26 de setembro de 1985


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Vive

Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


Alberto Caeiro

sábado, 21 de setembro de 2013

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Resposta a um poema


A instável, viva multidão vermelho-púrpura,
e ao sol, serena solidão: o meu poema
Nenhum desejo – a breve fama, o amor urgente
Da fortaleza nasce um canto, ao mais profundo
Agradecida, à simples clara flor inclino-me
Viver reclusa e só, entregue a esta procura
é todo encontro superar em amor mais puro
como elevar-se entre montanhas basta ao pínus



Tan Xiao

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Meu caro Pires Brandão


Menos Brandão que brandura,
Pois de "Brandão" tens a cera
Ao lhe dar molde e feição
Fecho o parênteses, mau!
Não me sai isto a contento,
A frase é banal, sem jeito,
E se és amigo do peito,
Dá com o que peço um quinau,
Pois hoje sofro o tormento
De não ter um "nicolau"!
Como os tempos são cruéis
Para mim por estes meses,
Eu já não sei o que faça,
A não ser que na desgraça,
Me valham amigos fiéis!
Salva o Emílio de Menezes,
Brandão, com vinte mil-réis.


A pobreza.
De acordo.

A necessidade.
E eu que o diga.



POESIA SATÍRICA E VERSOS DE CIRCUNSTANCIA
Emílio de Menezes

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Letanía del ciego

Soy como un ciego 
RUBÉN DARÍO 

Y tú que tanto amas, tanto ríes,
tanto adivinas y conoces tanto,
¿dónde el escudo para que te fíes,
dónde el pañuelo de enjugar tu llanto?
¿Dónde el camino que no veo ahora?
Dímelo o llora y el mirar suprime.
¿Es ya la noche que no tiene aurora?
Dímelo, dime.
Y sin embargo tu vivir empaña
mi vivir con un vaho que es ternura,
que es caliente rumor que me acompaña
la noche oscura.
Y sin embargo con tu mano guías
y a tientas toco lo que apenas veo
y digo acaso para que sonrías
lo que no creo.
Y toco apenas y tu bulto aprendo
y torpe sigo lo que tú me indicas.
Lo que no miro, lo que no comprendo,
tú multiplicas.
Tú multiplicas, o quizás es tu invento
porque lo vea aunque quizá no exista.
Entre la noche de mi pensamiento
dulce es tu vista.
Dulce es tu vista, tu mirar risueño
que mira un llano donde estaba un monte
y que a mi alma de temblor pequeño
llamó horizonte.
Dulce es tu vista que miró aquel lago
y lo llamaba alegre mar bravío.
Tu generoso corazón es mago. ¡Lo fuese el mío!

Carlos Bousoño

De «Noche del sentido» (1957)

11/09


terça-feira, 10 de setembro de 2013

O casamento do diabo


(Imitação do alemão)


SATÃ TEVE um dia a idéia
De casar. Que original!
Queria mulher não feia,
Virgem corpo, alma leal.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fira do que tu.

Resolvido no projeto,
Para vê-lo realizar,
Quis procurar objeto
Próprio do seu paladar.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana.
É mais fina do que tu.

Cortou unhas, cortou rabo,
Cortou as pontas, e após
Saiu o nosso diabo
Como o herói dos heróis.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que à mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.

Casar era a sua dita;
Correu por terra e por mar,
Encontrou mulher bonita
E tratou de a requestar.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.

Ele quis, ela queria,
Puseram mão sobre mão,
E na melhor harmonia
Verificou-se a união.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fira do que tu.

Passou-se um ano, e ao diabo,
Não lhe cresceram por fim,
Nem as unhas, nem o rabo...
Mas as pontas, essas sim.

Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.



Poesias dispersas, 
Machado de Assis

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Estâncias

Eu lembro-me de ti que és minha vida,
Último alívio neste mundo insano,
Anjo da guarda que à minh’alma aflita
Pudera as trevas espancar com as asas,
Lavar-lhe as manchas num Jordão de lágrimas!


Fagundes Varella

terça-feira, 3 de setembro de 2013

IDÉIAS ÍNTIMAS

                     VIII

O pobre leito meu desfeito ainda
A febre aponta da noturna insônia.
Aqui lânguido a noite debati-me
Em vãos delírios anelando um beijo...
E a donzela ideal nos róseos lábios,
No doce berço do moreno seio
Minha vida embalou estremecendo. . .
Foram sonhos contudo. A minha vida
Se esgota em ilusões. E quando a fada
Que diviniza meu pensar ardente
Um instante em seus braços me descansa
E roça a medo em meus ardentes lábios
Um beijo que de amor me turva os olhos.
Me ateia o sangue, me enlanguesce a fronte,
Um espírito negro me desperta,
O encanto do meu sonho se evapora
E das nuvens de nácar da ventura
Rolo tremendo à solidão da vida!


Poemas Malditos,
Álvares de Azevedo