sexta-feira, 29 de abril de 2011

HENRI MICHAUX

Emportez-moi

Arraste-me
Arraste-me numa caravela,
Numa velha e doce caravela,
Na roda de proa, ou se venta, na espuma,
E me faça naufragar, lá longe, longe.
Na atrelagem de uma outra época.
No aveludado engodo da neve.
No fôlego daqueles cães reunidos.
Na tropa extenuada das folhas mortas.
Arraste-me sem me quebrar, aos beijos,
Sobre os tapetes de palmas e seus sorrisos,
Nos corredores dos ossos longos, e das articulações.
Arraste-me, ou antes sepulte-me.



Trad. Leo Magalhaens

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Agradeço por te amar

Agradeço...

Por ter ido embora,
E ter me sentenciado a imensa liberdade.

Agradeço...

Pelos dias que nunca foram tão dias,
Teus olhos e teu sorriso.

Agradeço...

Por eu ter te amado.
Com a fidelidade de um animal domesticado.

Agradeço...

Pelas vezes que eu chorei de saudade,
Pra te impressionar, causar piedade.
Pelos dias de cão, agradeço...

Pelo estro inspirado,
Por esculhambar meu coração,
Monótono e careta.

Agradeço...

Por me dar alguém para lembrar.

Agradeço...

Ter me acordado pra realidade,
Da pessoa que eu já nem lembrava que eu sou.
E por todas na rua terem a tua cara.

Agradeço...

Por não ter voltado,
Pra buscar as coisas que se acabaram.
E também por não ter dito obrigado.

Agradeço por te amar.






Igor Moreira

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mapa do meu nada




Você é dedos que eu te quero, tocou
Você é beijo que eu te quero, beijou
Você é Vênus que eu te quero, soprou
Não sou desses homens, eu te quero, atenção
O dedo deduz, dedo é dez se é dois
Tocando essa cor desde os pés do teu chão
Buscando afinar um satélite à-toa
Não sou desses homens, eu te quero há um tempão
Doido desejo chupando dedo num beco cheio de bêbados trêbados
Chutando os prédios, pregando prego no prego
Réu da razão, do suplico, cuspe fútil
Nessa estrada cariada
Só você é o meio-fio de luz
Contramão sinalizada
No mapa do meu nada
Canção emocionada
Trajeto por teus fios

Carlinhos Brown