segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Coração Perdido

Buscas debalde o meigo passarinho
Que te fugiu;
Como quer que isso foi, o coitadinho
No brando ninho
Já não dormiu.

O coitado abafava na gaiola,
Faltava-lhe o ar;
Como foge um menino de uma escola,
O mariola
Deitou-se a andar.

Demais, o pobrezito nem sustento
Podia ter;
Nesse triste e cruel recolhimento
O simples vento
Não é viver.

Não te arrepeles. Dá de mão ao pranto;
Isso que tem?
Eu sei que ele fazia o teu encanto;
Mas chorar tanto
Não te convém.

Nem vás agora armar ao bandoleiro
Um alçapão;
Passarinho que sendo prisioneiro
Fugiu matreiro
Não volta, não!

Machado de Assis

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tri - Milton Nascimento

É com muita alegria que acabo de acompanhar mais um título brasileiro do Cruzeiro. Sem dúvida, uma das mais bonitas campanhas de todos os tempos. E, com a conquista de mais esse campeonato, é impossível não lembrar de outros acontecimentos que muito me marcaram. Um deles, sem dúvida, foi o campeonato de 2003, com o maestro Alex jogando muito, mágico! Na semana passada, depois de uma turnê em algumas cidades da Europa, passei um tempo descansando em Lisboa e fui levado por um de meus filhos até a casa do Luisão, outro jogador extremamente importante naquela conquista. Juntos, relembramos vários momentos desse título, e Luisão me contou histórias maravilhosas daquele ano.

Eu ainda não o conhecia pessoalmente, mas fiquei muito impressionado com a cordialidade, a simpatia e a humildade desse que é um dos melhores (e mais respeitados) zagueiros do mundo. Segundo ele, o Cruzeiro é uma marca que jamais vai sair da sua vida, nunca. Na despedida, como não poderia deixar de ser, desejamos boa sorte um ao outro pelo título. E deu certo, resultado: Cruzeiro campeão de 2013! Mas esse campeonato também me fez lembrar de outro grande companheiro: Tostão, "a fera de ouro". Um dos jogadores mais brilhantes de todos os tempos. É com muita honra que tive a chance de fazer a trilha sonora para um filme que foi feito sobre ele no começo dos anos 1970. A música-tema, "Tostão", continua fazendo a cabeça de muita gente pelo mundo. Me lembro até hoje das partidas épicas que ele jogou, tanto pelo Cruzeiro quanto pela seleção brasileira. Tostão é gênio! Dentro de campo, incontestável, fora dele, imprevísivel! Sem dúvida nenhuma ele é hoje um dos maiores cronistas do Brasil. Tostão, meu amigo, esse campeonato também tem muito de você nele!

Outra grande alegria do Cruzeiro na minha vida foi quando fui nomeado Embaixador Internacional do clube. Função essa que levo muito a sério, pois em todos os lugares que eu vou, quando o assunto é futebol, nunca deixo de falar desse cargo tão importante para mim. E, sinceramente, espero ainda poder representar durante muito tempo meu clube mundo afora. De uns tempos para cá, fiquei ainda mais próximo da Toca da Raposa, onde sempre fui muito bem tratado. Durante o ano inteiro recebi camisetas e fui convidado pelo presidente a comparecer em várias partidas, mas infelizmente minha agenda de shows nunca batia com os jogos do time. Mas, nem por isso, eu deixava de acompanhar as partidas, não importa o lugar onde estivesse.

Sendo assim, não posso terminar esse texto sem antes falar de uma das pessoas mais importantes nessa conquista: Marcelo Oliveira, comandante que teve que superar inúmeras barreiras para chegar até aqui. Sua generosidade, calma e humildade foram fundamentais para acertar o time. Eu também poderia citar pelo menos uns dez jogadores do elenco que jogaram muito em 2013, mas prefiro (por justiça) parabenizar a todos que participaram dessa campanha histórica e emocionante. Do roupeiro, passando pelos seguranças, assessores até o massagista, não podemos esquecer que o trabalho deles também é nobre, digno de aplausos e imprescindível para o clube.
É por isso que eu digo:

Cruzeiro, estou fechado contigo!


Milton Nascimento




quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O poeta

Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.

Rainer Maria Rilke